A EDUCAÇÃO SEXUAL EMANCIPATÓRIA NO TRABALHO COM FAMÍLIAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35919/rbsh.v36.1268

Palavras-chave:

Educação sexual, Sexualidade, Desenvolvimento humano, Assistência social

Resumo

Educar pessoas para uma sexualidade emancipatória consiste em oferecer informações que minimizem as influências negativas decorrentes de práticas repressivas e coercitivas, comumente presentes na sociedade. Considera-se que os serviços da Proteção Básica da Assistência Social podem proporcionar um espaço adequado para o desenvolvimento desse trabalho. Assim, este artigo apresenta um relato de experiência sobre o trabalho realizado com famílias em situação de vulnerabilidade social atendidas em um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de um município do Espírito Santo. São descritas atividades grupais voltadas para a educação sexual, realizadas ao longo de 2019, com três segmentos do público atendido no CRAS: famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica acompanhadas pela equipe do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), adolescentes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e gestantes beneficiárias do Programa Bolsa Família. Foram utilizadas metodologias mistas, como exibição de documentários, rodas de conversa e quizzes interativos. As experiências foram analisadas à luz da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano, a qual destaca a importância dos programas sociais e das políticas públicas para a promoção de um desenvolvimento saudável. Constatou-se que o acolhimento da equipe psicossocial às demandas dos participantes contribuiu para a ampliação do debate sobre os temas, favorecendo o processo de educação sexual. Observa-se que, por meio das atividades relatadas, foi possível fortalecer vínculos protetivos comunitários, familiares e institucionais; promover o acesso a informações sobre a vivência segura da sexualidade, benefícios socioassistenciais e saúde reprodutiva; ampliar o autoconhecimento das participantes sobre a saúde integral da mulher e desmistificar o funcionamento corporal e os mecanismos de contágio por Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Entretanto, alguns entraves foram identificados na realização das atividades, sendo compreendidos como indicativos da necessidade de que o trabalho da equipe psicossocial esteja alinhado aos documentos orientadores sobre educação em sexualidade e às diretrizes para a atuação do PAIF.

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Biografia do Autor

Ligia Caroline Pereira Pimenta, Universidade Federal do Espírito Santo

Mestra em Psicologia Institucional. Prefeitura Municipal de Vitória/ES. Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-graduação em Psicologia.  Vitória, Brasil. 

Celia Regina Nascimento Rangel, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutora em Psicologia. Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, Programa de Pós-graduação em Psicologia.  Vitória, Brasil. 

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Publicado

2025-04-26

Como Citar

Pimenta, L. C. P., & Rangel, C. R. N. (2025). A EDUCAÇÃO SEXUAL EMANCIPATÓRIA NO TRABALHO COM FAMÍLIAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL . Revista Brasileira De Sexualidade Humana, 36, 1268. https://doi.org/10.35919/rbsh.v36.1268

Edição

Seção

Relatos de Caso

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